Retorno de “Cidade dos Homens” expõe fracasso dos governos PT

Acho que foi o Netflix quem popularizou essa onda de revivals de seriados antigos. Desde Arrested Development até Gilmore Girls, assistir a episódios novos de séries canceladas é o mais próximo que a indústria do entretenimento chegou de emular a catarse provocada por baixar discografias de artistas mortos.

A Globo entendeu rapidamente que o filão é interessante. As ideias de gaveta, antes relegadas aos formatos internacionais, agora ganharam o confortável e preguiçoso reforço das franquias aposentadas: Escolinha do Professor Raimundo e Os Trapalhões, veja só, ganham temporadas novas em pleno 2017.

Cidade dos Homens foi um seriado exibido pela emissora entre 2002 e 2005, meio como um antídoto contra o realismo nada fantástico de Cidade de Deus. Acompanhava as desventuras de dois moleques tentando viver com dignidade e otimismo nas condições adversas das favelas cariocas.

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Um conto de duas Cidades dos Homens (desculpa)
Não chegou a deixar saudades, mas os protagonistas Laranjinha & Acerola entraram para o nosso imaginário popular. São parte fundamental do panteão de duplas que assolam o país e nos deixam sem saber quem é quem, de onde também são integrantes figuras como Patati & Patatá, Juba & Lula e Sandy & Júnior.

Se as coisas eram difíceis para os rapazes durante a lua de mel do Brasil com o governo Lula, pouca coisa melhorou 12 anos depois. Cancelada no ano em que eclodiram as denúncias sobre o famigerado Mensalão, a Cidade dos Homens pós-Lava Jato apresenta a crise ética generalizada da nação.

O filho de Laranjinha (ou será do Acerola?) está com uma grave doença e a espera na fila do SUS poderá ser fatal. Apenas uma boa quantia de grana poderá salvar o filho da fruta.

Eis que os herdeiros de Laranjinha & Acerola acabam se metendo em uma grande confusão com o chefão da favela e conseguem ficar com o valor da cirurgia em mãos. A partir daí, Woody Allen encontra Regina Casé em uma discussão filosófica entre os dois pais das crianças: devolver o dinheiro sujo e manter a honra ou cometer o ilícito em nome de um bem maior?

A questão moral chega a ser interessante, mas infelizmente esse fio condutor vira fiapo narrativo. O que seria um ótimo episódio especial vira minissérie em 4 episódios, obrigando o roteiro a encher linguiça com longos flashbacks das temporadas anteriores com a narração dos protagonistas.

Encerro por aqui com um apelo para a Rede Globo: para de enrolar e começa o BBB logo, por obséquio.

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