FEUD: a fofoca legitimada como entretenimento

 Ryan Murphy é a força criativa por trás de sucessos como Nip/Tuck, Popular, American Horror Story e American Crime Story. O executivo é uma espécie de Amado Batista da teledramaturgia norte-americana: pega todos os sentimentos que estão vibrando no ar e transforma em produtos extremamente bregas.

As sobrancelhas de John Travolta em The People Vs OJ Simpson (tema da primeira temporada de American Crime Story) ainda estão impedindo boa parte da população mundial de dormir e o prolífico produtor já retorna com uma nova série, FEUD.

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He’s got John Travolta eyebrows 

Enquanto American Crime Story parte das páginas policiais para criar adorável divertimento familiar, a mais recente antologia de Murphy pega as saborosas fofocas de Hollywood como fonte.

Essa sofisticadíssima versão de A Hora da Venenosa vai até os bastidores de What Ever Happened to Baby Jane?, filme de 1962, para esmiuçar as picuinhas entre suas duas protagonistas, Bette Davis e Joan Crawford.

Claro que nunca ouvi falar do filme e jamais me importaria com a vida íntima dessas duas senhorinhas  – Bette Davis só conheço por conta dos olhos de figurante do Chico Anysio e também de um antigo hit radiofônico que brincava justamente com tão peculiar anatomia.

E devo dizer que a promessa precoce de uma segunda temporada com os bastidores do relacionamento da Lady Di com o Príncipe Charles ajudou a moldar na cabeça de gente tosca como eu sobre o que é a série: fofoca, pô!

Como uma boa fofoca prescinde qualquer conhecimento pregresso de seus protagonistas, resolvi dar uma chance ao piloto, exibido neste domingo pelo canal Fox Premium. Devo dizer que a série parece ótima.

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As protagonistas da treta original

Do mesmo jeito que acontece na primeira semana do BBB, as tensões começam a ser construídas, mas sem nenhum grande confronto direto. Também deu para perceber que Susan Sarandon e Jessica Lange dão vida a moças bem mais parecidas com Ana Paula Renault do que com a turma do ‘deixa disso’ que tomou conta do reality show nessa temporada. Vem treta boa por aí.

Ver um elenco de pedigree, que ainda conta com Alfred Molina e outros figurões, uma produção de primeira e o roteiro muito bem amarrado trabalhando a serviço da fofoca é um alento.

Outrora relegado por artistas e executivos como um aspecto menor no consumo de entretenimento, hoje é amplamente reconhecido como um motor fundamental para a indústria.

Não custa lembrar que o TMZ, mais importante fonte de fofocas do mundo das celebridades internacionais, pertence à mesma Warner que produziu What Ever Happened to Baby Jane? em 1962. Além de veneno, há poesia nessa história toda.

No Brasil, sabemos que a mão que faz o samba, faz a bomba. Ao mesmo tempo que a Globo constrói as carreiras de seus contratados, joga reputações no lixo com seus jornais populares e sites de notícias especulativas.

Urge saber como será a era da pós-fofoca, quando as informações de bastidores novamente se libertarem dos interesses das grandes corporações. Enquanto isso, passarei os próximos domingos me divertindo com alguns causos de 50 anos atrás, perfeitamente embalados pra viagem.

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