A biografia do Wolverine é um dos mais caóticos e mal resolvidos casos de crowdsourcing da história do entretenimento mundial.
Como o personagem surgiu fazendo o papel de vilão genérico num gibi do Hulk, seu background veio numa folha em branco. E cada autor posterior foi se sentindo no direito de adicionar algumas novas e lamentáveis questões sobre a dolorosa jornada desse herói.
O básico sempre foi o seguinte: Wolverine era um mutante canadense com fator de cura apurado e sérios problemas de memória.
O pouco que nós (e ele) sabíamos: o cara havia sido submetido a um processo maluco chamado Arma X, que lhe garantiu estilosas garras de adamantium e veio a conhecer Charles Xavier, participando dos X-Men desde a segunda formação (que depois descobriríamos que era a terceira – mas isso é assunto pra outro dia).
Mas a amnésia de Wolverine, somada à parca quantidade de detalhes que os autores iniciais deram à história do personagem, acabaram dando brecha pra vagabundo desembestar a inventar assunto sobre as lacunas vazias.
A ideia de contar a origem secreta do herói usou como gancho uma novidade criada nos loucos anos 90. Na famigerada saga “Atração Fatal”, o vilão Magneto tira todo o adamantium do corpo do Wolverine. E para surpresa geral da nação, descobrimos que ele sempre teve garras – mas elas eram de osso.
A história do jovem aristocrata James Howlett é um melodrama barato. Tem a saúde frágil, uns amigos bestas e uma família detestável. Acontece tanta coisa chata com essa turma que dá vontade de fazer a mesma coisa que a mãe do garotinho faz: dar um tiro na própria cabeça.
O gibi tenta explicar e amarrar fatos que não acrescentam muita coisa – e que nem tinham muita necessidade de existir. Mostra que ele sempre teve uma queda por ruivas, conta porque ele prefere charutos e por qual motivo não confia em ninguém.
Cotação: uma ideia que deveria existir apenas na cabeça, de uma ideia que não tem a menor pretensão de acontecer possível
SERVIÇO
Este novo clássico do péssimo entretenimento está disponível na adorável “A Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel” da editora Salvat. É o volume 26 da “coleção preta”, e reúne todas as 6 edições da minissérie original.
Texto do Paul Jenkins, abertamente inspirado e influenciado pelos manda-chuvas da Marvel na época, Joe Quesada e Bill Jemmas. A arte do Andy Kubert com cores do Richard Isanove faz tudo quase valer a pena. Quase.
Falarei em breve sobre a infame continuação dessa série, lançada recentemente pela Panini em solo nacional.